A sala de aula é um dos poucos lugares onde o professor pode recuperar um tanto da dignidade que lhe tem sido progressivamente roubada pela perda de salário, status social e possibilidade de ascensão na carreira.
Acima, da esquerda para a direita: 1. Poster da Era McCarthy (macartismo) nos EUA, convidando os cidadãos a delatar quaisquer atividades “anti-americanas” aos superiores or ao FBI; 2. Poster nazista mostrando os judeus como a figura por trás das potências inimigas, no caso a Inglaterra, os EUA e a União Soviética; 3. Poster soviético que mostra um soldado do Exército Vermelho destruindo os “inimigos do povo”.
ESCOLA DE DELATORES
O que têm em comum Adolf Hitler, Stalin, Senador McCarthy e o ministro Abraham Weintraub? Todos eles, apesar de suas ideologias diversas, incentivaram os cidadãos a delatar outros cidadãos por diferenças étnicas, no caso de Hitler, ou ideológicas, no caso de Stalin, McCarthy e Weintraub. Mas Weintraub conta com recursos que fariam a inveja de seus predecessores: a Internet e os telefones celulares. Weintraub criou um endereço eletrônico no MEC para que a população denuncie quem estimular manifestações contra os cortes de orçamento na educação. Weintraub disse ainda que filmar professores em aula é um direito dos alunos. Em uma prova de que as instituições funcionam, o MPF (Ministério Público Federal) deu dez dias para que o MEC cancele a nota oficial e recomendou que o ministro “abstenha-se de cercear a liberdade” da comunidade estudantil. Parabéns, MPF.
Bolsonaro afasta Vélez por incompetência e, em seu lugar, nomeia Abraham Weintraub, o sinistro.
A educação brasileira merece mais do que os homens medíocres que neste ano chefiaram o MEC. Primeiro, Bolsonaro nomeou para educação Ricardo Vélez Rodríguez, que tinha a cara, o jeito e a mentalidade de sacristão de igreja do interior. Faltava a caspa ou, talvez, não. Nas fotos não dá pra ver direito. Em sua curta passagem pelo ministério, Vélez quis reescrever a história do golpe militar de 1964, nomeou e demitiu na mesma semana a secretária-executiva da pasta, pediu que escolas filmassem os alunos cantando o hino nacional e o refrão de campanha de Bolsonaro, disse que a universidade não é para todos e que o brasileiro no exterior é um canibal. Bolsonaro afastou Vélez por incompetência e, em seu lugar, nomeou Abraham Weintraub, o sinistro. Enquanto Vélez era só um louco manso, Weintraub é perigoso.
A sala de aula é um dos poucos lugares onde o professor pode recuperar um tanto da dignidade que lhe tem sido progressivamente roubada pela perda de salário, status social e possibilidade de ascensão na carreira. Estabelecer uma relação de desconfiança entre professor e aluno não ajuda nem um nem outro. Não bastasse o aspecto ético, a iniciativa do MEC, segundo os procuradores da MPF, fere a Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e também a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
É, a educação brasileira mereceria mais.
1 Comentário
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Tem toda razão, nada pior do que cercear a liberdade de expressão. Mesmo que saibamos que nos últimos governos existiu dentro das salas de aula uma doutrinação para um dos lados, no caso, da esquerda. Mas não é razão para aceitarmos o que esse governo de direita vem fazendo com a educação.