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No dia 25 de dezembro nasceu um menino que uniria a Terra e o Céu, inaugurando uma era nova para a humanidade.

Estou falando, é claro, de Isaac Newton (1642 – 1726).

 

O 25 de dezembro

A bíblia não diz o dia em que, na cidade de Belém, Maria deu à luz um menino. Como explicou o antropólogo e folclorista Sir James George Frazer (1854-1941), a data foi tomada de empréstimo a um ritual pagão. A oficialização do 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus só foi feita no século quarto, quando se usava o calendário juliano.

Autores cristãos da época notaram a coincidência com o Solstício de Inverno, mas alguns, como padre Ambrósio (c. 339–397), justificaram-na afirmando ser Jesus Cristo o verdadeiro Sol, o que brilhou mais do que os deuses da velha ordem. No calendário juliano, o dia 25 de dezembro marcava o solstício de inverno, a data em que o Sol começa a ganhar mais força e os dias se encompridam. À meia-noite, os participantes do ritual que marcava o “Nascimento do Sol” na Síria e no Egito exclamavam, “A virgem deu à luz! A luz está crescendo!”. Em seu “The Golden Bough: A Study in Magic and Religion”, Fraser lista essa e muitas outras semelhanças entre a festa pagã do Solstício de Inverno e o Natal cristão, inclusive o fato de a data pagã ser representada no Egito por um bebê nascido da virgem. Outras explicações foram oferecidas para a escolha da data, mas a de Frazer é a mais plausível.

À véspera do Natal de 2013, em um dia chuvoso na praia, sem nada melhor para fazer, resolvi criar um cartão de Natal que expressasse o que o 25 de dezembro significa para mim. Foi nesse dia nasceu um menino que uniria a Terra e o Céu, inaugurando uma era nova para a humanidade. Estou falando, é claro, de Isaac Newton (25 de dezembro de 1642 – 20 de março de 1726). Newton nasceu no Natal de 1642, sob o calendário juliano. Quando a Inglaterra adotou o calendário Gregoriano, em 1752, a data de nascimento de Newton foi ajustada para 4 de janeiro de 1643.

 

O Cartão

Adoration_of_Newton

A Adoração de Newton (José Colucci, 2013)

 

A base para o cartão foi a “Adoração dos Magos”, de Gentile da Fabriano (1370 – 1427). Ao alto, a frase encontrada em um dos cadernos de Newton: “Amicus Plato, amicus Aristoteles, magis amica veritas” (Platão é meu amigo, Aristóteles é meu amigo, mas minha maior amiga é a verdade). A frase original, do próprio Aristóteles, é “Amicus Plato, sed magis amica veritas”. Ao parafraseá-la, Newton mostra que não se deixa levar pela falácia do “Apelo à Autoridade”, a crença de que algo é verdadeiro porque foi dito por uma autoridade no assunto. Interessante notar que Newton viveu logo após Galileu, quando o método científico ainda estava em sua infância, e a autoridade de Platão e Aristóteles ainda falava muito.

 

Caderno de Newton. A frase ao topo da página diz: “Amicus Plato, amicus Aristoteles, magis amica veritas”

 

Procurei cercar Newton de personagens notáveis da história da ciência, sem nenhum critério mais rígido do que achar na Internet a imagem adequada para a composição. Os retratados são, da esquerda para a direita:

 

Rosalind Franklin (1920-1958)

Química inglesa, através de cristalografia de raios-X fez contribuições importantes para a compreensão da estrutura molecular do DNA, RNA, vírus, carvão e grafite. Sua contribuição para a descoberta da estrutura DNA foi reconhecida somente após a sua morte. Para homenagear sua contribuição nem sempre reconhecida, botei em suas mãos um modelo da espiral do DNA.

 

Marie Curie (1847-1934)

Física e química que fez descobertas pioneiras sobre a radioatividade. Foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel e a primeira e única pessoa até hoje a ganhá-lo duas vezes, em duas ciências diferentes. Nada mais justo do que dar-lhe o papel de mãe do menino Isaac no cartão de Natal.

 

Edmund Halley (1656-1741)

Astrônomo, geofísico, matemático, meteorologista e físico inglês. O primeiro a registrar o trânsito de Mercúrio e o trânsito de Vênus, o que permitiu as primeiras estimativas de tamanho do sistema solar. Suas observações ajudaram a comprovar as leis do movimento de Newton. Fiz de Halley o pai de Newton e botei-lhe nas mãos uma de suas tabelas astronômicas.

 

Isaac Newton (1642-1726)

Matemático, físico, astrônomo, teólogo e filósofo natural inglês, reconhecido como um dos cientistas mais importantes de todos os tempos e figura central na revolução científica. No cartão, Newton abençoa Einstein, cuja teoria suplantou a sua.

 

Albert Einstein (1879-1955)

Físico teórico, desenvolveu a teoria da relatividade. Poucos cientistas são mais conhecidos. Seu trabalho também influenciou a filosofia da ciência. No cartão, fiz Einstein lamber os pés de Newton, a deferência de um gigante intelectual a outro.

 

Galileo Galilei (1564-1642)

Astrônomo, físico, engenheiro e polímata italiano. Chamado de “Pai da Astronomia Observacional”, “Pai da Física Moderna”, “Pai do Método Científico” e “Pai da Ciência Moderna”. Representei-o como um dos reis magos, mas, pensando bem, deveria ter sido o “Pai de Newton”.

 

Robert Hooke (1635-1703)

Filósofo natural, arquiteto e polímata inglês. Hooke foi um dos arquitetos mais importantes de seu tempo. Em seu trabalho de cientista, chegou muito perto de provar que a gravidade segue a lei inversa do quadrado da distância, e que essa relação governa o movimento dos planetas. Como a ideia foi desenvolvida mais tarde por Newton, uma disputa feroz se deu entre eles, com Newton fazendo o possível para apagar o legado de Hooke. No cartão, dotei Hooke de um par de orelhas de burro, mais para agradar Newton, pois Hooke merece lugar destacado na galeria dos gênios da humanidade.

 

Werner Heisenberg (1901-1976)

Físico teórico alemão, um dos criadores da mecânica quântica. Como é conhecido por seu “Princípio da Incerteza de Heisenberg”, tive que representá-lo duas vezes no cartão, pois nunca sabia precisamente onde ele estava.

 

Nicolau Copernicus (1473-1543)

Matemático e astrônomo da renascença, formulou o modelo heliocêntrico do universo. A publicação de seu livro “De revolutionibus orbium coelestium” (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes) foi um dos grandes eventos da história da ciência, iniciando a chamada “Revolução Copernicana”. No cartão, Copérnico é um dos reis magos.

 

Erwin Schrödinger (1887-1961)

Físico austríaco ganhador do Prêmio Nobel por sua contribuição à física quântica. Para zombar da interpretação de Copenhagen da mecânica quântica, criou o experimento mental que se tornou conhecido como o Gato de Schrödinger. Por essa razão, botei-o junto ao gato no cartão.

 

Charles Darwin (1809-1882)

Naturalista, geólogo e biólogo inglês, conhecido por sua contribuição à ciência da evolução. Sua teoria de que todas as espécies de vida descendem de um ancestral comum é considerada um conceito fundamental e uma das teorias mais duradoras da ciência. Botei em seu chapéu o Peixe com Pernas, uma variação do símbolo tradicional cristão que remete a um fóssil transicional.

 

Johannes Kepler (1571-1630)

Matemático, astrônomo e astrólogo alemão. Figura central da revolução científica do século 17. Conhecido pelas leis do movimento planetário. Tem lugar no cartão, pois seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da teoria da gravitação universal de Newton.

 

Que a razão e a paz estejam convosco neste novo ano.

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